A formação médica como processo de transformação humana e social







Por Gabriel Chies*


Ser médico é estar em constante transformação. Ninguém nasce médico, torna-se. E esse tornar-se é um processo contínuo, moldado por experiências de vida, aprendizado e convivência. Antes de qualquer título ou função, o médico é, sobretudo, um ser humano: alguém que pensa, sente, estabelece vínculos e atua em comunidade. É também um agente político, com poder de transformar realidades e contribuir para o bem coletivo.

Com essa compreensão ampliada da profissão, o Centro Universitário Cesuca, que integra a Cruzeiro do Sul Educacional, deu início, em 2024, ao curso de Medicina no município de Cachoeirinha (RS). A iniciativa nasceu de um sonho e de uma necessidade concreta: ampliar o acesso à formação médica e contribuir para reduzir o déficit de profissionais na região metropolitana de Porto Alegre.

Embora esteja ao lado da capital, Cachoeirinha ainda enfrenta desafios importantes na atenção básica, que em 2025 alcançava pouco mais de 68% de cobertura segundo dados do e-Gestor, sistema do Ministério da Saúde. Sensível a essa realidade, o Cesuca estruturou um curso com 60 vagas anuais, aprovado com nota máxima pelo Ministério da Educação (MEC), e investiu na criação de laboratórios modernos, salas de simulação realística e em um corpo docente altamente qualificado.

Tornar-se médico é enfrentar um caminho complexo e desafiador. A medicina exige domínio técnico, mas também reflexão, empatia e autocrítica. Exige compreender a vida entre a ordem, dos saberes anatômicos, histológicos e fisiológico, e o caos, que se revela nas incertezas do atendimento humano. No Cesuca, essa complexidade é parte essencial do processo formativo, entendida como oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

A proposta pedagógica do curso ultrapassa o ensino técnico. A formação médica no Cesuca é fundamentada em uma visão humanista e socialmente comprometida, que reconhece o estudante como sujeito ativo na transformação da saúde coletiva. Guiado pelos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e pela valorização da Medicina de Família e Comunidade, o currículo promove o contato dos alunos com a Atenção Primária desde o início do curso.

São oito disciplinas de extensão, nas quais os estudantes desenvolvem ações e intervenções em diferentes contextos sociais, abordando temas como Direitos Humanos, Saúde Planetária e Educação em Saúde. Essas experiências aproximam o futuro médico da realidade das comunidades e o ajudam a compreender, na prática, o papel da medicina como instrumento de cidadania.

Nesse sentido, o curso caminha lado a lado com o SUS. O Cesuca mantém seis Contratos Organizativos de Ação Pública Ensino–Saúde (Coapes) com municípios da 10ª Região de Saúde, Cachoeirinha, Gravataí, Viamão, Alvorada, Glorinha e Porto Alegre, permitindo que os alunos vivenciem a rotina dos serviços públicos e desenvolvam competências clínicas, éticas e sociais.

Além da Atenção Básica, o curso mantém parcerias com hospitais de referência regional, como o Grupo Ana Nery (Hospitais Padre Jeremias e de Alvorada), o Grupo Hospitalar Conceição (Hospitais Conceição, Cristo Redentor, Fêmina e da Criança), a AESC Educação e Saúde (Hospitais Mãe de Deus, Santa Luzia, Santa Ana e Caps AD), e ainda os Hospital de Viamão, Hospital Universitário de Canoas e a Fundação Hospitalar Getúlio Vargas, em Sapucaia do Sul. Essa ampla rede garante uma formação clínica sólida, diversificada e alinhada às necessidades reais da população.

Com excelência acadêmica, estrutura moderna e compromisso social, o curso de Medicina do Cesuca se consolida como um espaço de formação integral, preparando médicos generalistas, éticos e sensíveis às demandas da sociedade. Porque formar médicos é, antes de tudo, formar agentes de transformação social e humana.



*Gabriel Chies é médico de família e comunidade e coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário Cesuca.

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