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Bagre Fagundes-Foto de Felipe Fraga |
Tema desta edição é "Tradição escrita nas páginas da nossa história" e tem Angela Xavier, Fabio Monteiro, Jane Tutikian, Letícia Wierzchowski e Marco Haurélio como autores convidados. Entre as atrações artísticas, Os Fagundes, Loma e Tchê Guri. Programação cultural gaúcha se mescla à literatura regional de outros estados do país.
A Cultura estará em festa na próxima semana, com a 36ª Feira do Livro de Gravataí. O evento acontecerá de 15 a 19 de outubro, na Rua Coberta e na Praça da Bíblia, no Centro, com atividades também na Casa de Cultura (antiga sede da Prefeitura). Serão cinco dias de muita literatura, incluindo encontro com autores e ilustradores, sessões de autógrafos, espetáculos teatrais e musicais, contação de histórias, trocas e venda de livros em 17 bancas de livreiros, além de atrações especiais relacionadas aos livros e às artes. O tema desta edição é "Tradição escrita nas páginas da nossa história", dando ênfase à cultura regional do Rio Grande do Sul. Por esta razão, o cantor, compositor, instrumentista e folclorista Euclides Fagundes Filho, o Bagre Fagundes, foi escolhido o Patrono. Anamarcia Karin Mey, Angela Xavier, Isabella Andrade e Paulo Gnoatto são os homenageados.
A abertura será com "Os Fagundes" – com o patrono Bagre Fagundes ao lado dos filhos - e a programação de shows envolve nomes como Loma, Marcelo Oliveira, Beto Caetano, Tchê Guri e o espetáculo Chula, de Emily Borghetti. Na lista de autores convidados, estão Angela Xavier (O Lanceirinho), Fabio Monteiro (Cartas a Povos Distantes), Jane Tutikian (A Cor do Azul), Letícia Wierzchowski (A Casa das Sete Mulheres) e Marco Haurélio (Contos Encantados do Brasil). Também haverá diversas atividades culturais, como oficinas de brincadeiras antigas e palestra sobre os 400 anos das Missões Jesuíticas.
PATRONO E HOMENAGEADOS - Desde as últimas edições, o evento tem abordado temáticas que associam a literatura a outras linguagens artísticas. Já foram contemplados assuntos como teatro, música, artes visuais e patrimônio histórico material e imaterial. Neste ano, o tema escolhido é "Tradição escrita nas páginas da nossa história", dando ênfase à cultura regional do Rio Grande do Sul. Por esta razão, o cantor, compositor, instrumentista e folclorista Euclides Fagundes Filho, o Bagre Fagundes, foi escolhido Patrono da 36ª Feira do Livro de Gravataí. Com 86 anos recém contemplados, ele será patrono pela primeira vez de um evento cultural. "Fico imensamente feliz com o convite porque Gravataí está no caminho da minha vida. Mais atrás tive uma relação muito próxima com Gravataí, e será uma alegria estar presente nesse grande evento, especialmente como patrono", diz Bagre.
O tema valoriza a transmissão contínua de costumes, valores e conhecimentos que a tradição representa. "A família Fagundes é a imagem de tudo isso", destaca Patrick Silva, Secretário de Cultura de Gravataí. "Reconhecer Bagre Fagundes é valorizar não apenas sua trajetória, mas também a importância de manter viva a nossa tradição cultural, passada de pai para filho." Giulliano Pacheco, Secretário Adjunto de Cultura, complementa: "Esse tributo une passado e presente, mostrando que a cultura e a música da nossa terra continuam inspirando novas gerações."
Além de Bagre, a feira irá homenagear pessoas que se destacam na transmissão de conhecimento pela tradição e história, enfatizando também a ótica feminina e contemporânea nesse contexto. Os homenageados desta edição são Anamarcia Karin Mey, Angela Xavier, Isabella Andrade de Menezes e Paulo Ricardo Gnoatto. A celebração para reverenciar os quatro escolhidos será junto à abertura oficial, no dia 15, às 19h.
A 36ª Feira do Livro de Gravataí é uma realização do Ministério da Cultura, via Lei Rouanet, e da Prefeitura de Gravataí, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. O evento conta com patrocínio da Corsan, Cestto Atacadista e Marquespan Alimentos, e tem produção cultural da Engenho da Arte. A programação completa dos cinco dias pode ser acessada em https://gravatai.atende.net/cidadao/noticia/feira-do-livro-de-gravatai-anuncia-principais-atracoes-e-promete-uma-grande-programacao-cultural.
Currículos do patrono e homenageados:
Patrono Bagre Fagundes
O advogado, cantor, compositor, instrumentista e folclorista Euclides Fagundes Filho, o Bagre Fagundes, é o autor, ao lado do irmão Antônio Augusto Fagundes, o Nico, de uma das canções gaúchas mais conhecidas em todo o Brasil: o Canto Alegretense. O alcance que a composição alcançou foi um dos motivos que proporcionaram a Bagre receber neste ano a Ordem do Mérito Cultural Grã-Cruz 2025, maior honraria concedida pelo governo federal a personalidades que contribuíram significativamente para a cultura brasileira.
É na música que está a principal contribuição do patrono para a perpetuação da cultura e da tradição gaúchas. Um gosto que herdou do pai, Euclides Fagundes, criador da "Hora da Arte" para a família – um momento em que o patriarca reunia os 12 filhos para que declamassem e cantassem, entre parentes e amigos.
Ainda adolescente, Bagre comprou e passou a tocar a gaitinha de quatro baixos que o acompanha até hoje (e com a qual compôs a famosa canção). Na década de 70, já casado e pai de família, integrou o grupo "Os Angüeras", que fez história na Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana. Em 1980, criou o grupo "Inhanduy", do qual faziam parte seus filhos Neto e Ernesto. O grupo conquistou diversos festivais no Rio Grande do Sul, como a Tertúlia Musical Nativista de Santa Maria e a Ronda da Canção Nativa de Alegrete, e também a disputada Califórnia.
Ao longo dos anos, Bagre compôs vários grandes sucessos ao lado de Nico, como Es-cravos de Saladeiro e Origens, interpretadas por Neto a exemplo da primeira grava-ção do Canto Alegretense. Lançou o CD solo "De bota e Bombacha" e escreveu o livro Regras do Truco Cego, uma contribuição para registrar esta modalidade do tradicional jogo de cartas.
Como leitor, o patrono tem em outra família gaúcha - os Verissimo Erico e Luis Fer-nando – seus autores preferidos. Na relação familiar – com a esposa Marlene, os fi-lhos Neto, Ernesto, Luciana e Paulinho e os netos - Bagre segue a tradição de levar adiante as lições que aprendeu com o pai. O velho Euclides dizia que "a vida se resu-me em nunca fazer mal para ninguém. Depois, se tu tiver poder, não se achar maior do que ninguém. Por último, sendo pequeno, não ser humilhado por ninguém. Nin-guém é maior do que tu".
Hoje com o grupo Os Fagundes, ao lado dos filhos Neto, Ernesto e Paulinho, Bagre leva sua cultura e tradição de igual para igual aos públicos de todas as querências.
Anamarcia Karin Mey
Natural de São Bento do Sul (SC), Anamarcia Karin Mey cita Paixão Cortes ao dizer que "ser gaúcho é um estado de espírito". É com esse sentimento que ela atua no tradicionalismo, como Diretora Cultural da Subcoordenadoria do Vale do Gravataí, Diretora Cultural e 1ª Chinoca do CTG Rincão da Amizade.
Casada, com seis filhos e um netinho, é formada em Pedagogia e reside há 20 anos na cidade. Uniu sua formação à paixão pelo tradicionalismo, desenvolvendo ao longo dos anos diversas ações para promover e fortalecer as tradições gaúchas na região. Além das atividades diretivas, dedica-se à organização de oficinas e projetos para crianças e adultos. E também escreve: em 2024, foi campeã estadual no ENART, na categoria Literária - Poesia Inédita, com a obra "Viúvas do Pampa".
Do convívio com amigas tradicionalistas, surgiu outra frente de atuação: a organização Mulheres do Sul, promovendo ações sociais a partir da união entre mulheres.
Anamarcia tem se destacado pela defesa e ampliação do espaço feminino. Ela acredita que dar visibilidade e protagonismo às mulheres é essencial para perpetuar a cultura, garantindo que o tradicionalismo seja cada vez mais inclusivo e representativo. Por isso, vê a homenagem na 36º Feira do Livro de Gravataí como um reconhecimento não apenas a seu trabalho, mas a todos que acreditam que educar é também cultivar raízes, e ensinar é semear o amor pelo que somos.
Angela Xavier
Aos 20 anos, a professora iniciante Angela Maria Xavier Freitas recebeu a maior lição de sua vida: o alerta de uma aluna sobre o massacre dos Lanceiros Negros na Revolução Farroupilha - pelotão formado por escravizados que tiveram a promessa de liberdade e foram traídos ao final da guerra. O episódio em sala de aula a despertou para o apagamento da presença afro e indígena na história do Rio Grande do Sul.
A partir daí, a então graduanda em Letras passou a pesquisar sobre o tema nos pouquíssimos registros históricos. Em paralelo, cursou diversas especializações, entre elas em História e Cultura Afro-brasileira. Disposta a ver a questão tradicionalista sendo ressignificada, falando também sobre o protagonismo negro na história gaúcha, ampliou suas atividades para a formação de professores.
A trajetória fortaleceu sua própria identidade como mulher negra e abriu caminho para a escritora. A primeira obra de Angela Xavier foi "O Lanceirinho Negro", contando a história cruel dos Lanceiros Negros para crianças. O oitavo livro, "Lanceirinho", pela editora Coralina, está sendo lançado agora, numa carreira literária que já soma oito livros publicados e envolve também poesia e um romance. Ser homenageada na Feira do Livro de Gravataí, para ela, é um momento de grande importância, que representa o respeito de sua cidade ao trabalho realizado e dá suporte para desafios ainda maiores.
Isabella Andrade de Menezes
A prendinha Isabella Andrade de Menezes, tem apenas 11 anos, mas já convive com a tradição gaúcha por mais da metade de sua vida. Com cinco anos, ela começou a dançar na escolinha do CTG Carreteiros da Saudade. Aos 8, concorreu pela primeira vez no concurso de Prenda Minimirim e ficou em primeiro lugar, tanto em seu CTG, quanto na 1ª Região Tradicionalista (RT). Saiu do grupo de danças para se dedicar somente ao concurso e repetiu o feito. Agora ela é a 1ª Prenda Mirim da 1ª RT, que reúne 11 municípios.
A vivência no tradicionalismo despertou a criatividade de Isabella. Um dos temas estudados para o concurso de prendas foram as brincadeiras antigas. A menina desenvolveu uma pesquisa sobre o Jogo de Sapata que acabou resultando no projeto de um livro inclusivo. Ao visitar uma escola para apresentar seu trabalho, ela não se conformou ao ver duas alunas cadeirantes ficarem de fora da atividade. Com a ajuda da mãe e da avó, criou uma versão para se jogar com as mãos, que pode ser usada nas várias modalidades de Sapata pesquisadas por Isabella.
Outro alvo da curiosidade da menina são os Sete Povos das Missões, região de onde vieram 1.000 indios guaranis que estão na origem da Aldeia dos Anjos. Isabella está muito feliz com a homenagem na Feira do Livro de Gravataí e se sente orgulhosa por representar os jovens tradicionalistas.
Paulo Ricardo Gnoatto
Levado por seu pai, Bruno Gnoatto, para assistir a uma apresentação do CTG Aldeia dos Anjos, Paulo Ricardo Gnoatto, o Paulinho, passou a fazer parte da entidade desde então. Já são 48 anos junto à invernada de danças adulta, como dançarino e depois, vocalista. Por mais de 10 anos foi o posteiro, liderando os primeiros dos 11 títulos estaduais do grupo – o maior campeão do Rio Grande do Sul em danças tradicionais - e as viagens que deram início a uma longa trajetória, com mais de 50 festivais no Brasil e exterior.
Desde o primeiro contato, em 1978, aprender, ensinar e compartilhar se tornaram valores que Paulinho leva consigo, a partir de lições que nasceram dentro do CTG Aldeia dos Anjos. São décadas repletas de histórias marcantes, vivências inesquecíveis e lembranças que ajudaram a moldar quem ele é.
Hoje contribuindo com as atividades musicais, Paulinho segue com o mesmo compromisso: ajudar a formar líderes que representem, com excelência, a grandeza de um CTG como o Aldeia dos Anjos, verdadeiro patrimônio cultural de Gravataí e do RS.
Analista de Sistemas por profissão e tradicionalista por amor, Paulinho recebe a homenagem na 36ª Feira do Livro de Gravataí com imensa alegria e motivado para seguir em frente. Como ele diz, esta longa caminhada, para quem sonha alto, tem sempre o sabor de um novo começo.
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