No Dia do Gaúcho, aldeia Guarani em Porto Alegre celebra Carijo inédito e reafirma a origem do chimarrão




Produção tradicional e artesanal do chimarrão fortalece a autonomia da comunidade e reafirma o papel dos povos originários na formação cultural do Rio Grande do Sul

Neste 20 de setembro, enquanto os gaúchos celebram o Dia do Gaúcho e o início da Revolução Farroupilha (1835), uma das revoltas mais longas da história, os Guarani reafirmam a sua identidade através da realização do primeiro Carijo na Teko'a Anhetengua (Aldeia da Verdade, Verdadeira), em Porto Alegre. O chimarrão, símbolo maior da cultura do Rio Grande do Sul, reencontra suas origens no saber Guarani e reafirma o papel dos povos originários na formação da identidade gaúcha.

Para os Guarani, a ka'a/ ca'a/ caá (erva-mate) é um "presente" de Tupã, simbolizando a conexão com a Mãe Terra, o fortalecimento da energia, do espírito e do corpo. Embora o chimarrão seja um elemento tradicional indígena desde milênios antes da chegada dos europeus à América do Sul, a Teko'a Anhetenguá vive um momento histórico ao realizar seu primeiro Carijo. A iniciativa, que revitaliza saberes e fortalece a identidade cultural da comunidade Mbyá Guarani, integra o Projeto Ar, Água e Terra, realizado pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM), com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

O primeiro Carijo protagonizado pelos moradores da aldeia da Lomba do Pinheiro foi um evento de união e aprendizado, no qual todas as etapas foram realizadas de forma tradicionalmente indígena. As mudas de erva-mate foram plantadas em fases anteriores do projeto, entre 2012 e 2015 e o ritual contou com a participação do cacique Ramon e sua esposa Janaína – ambos da Teko'a Yvyty Porã (Aldeia Serra Bonita), localizada na Barra do Ouro, em Maquiné – que desceram a Serra para compartilhar seus saberes tradicionais com a comunidade da Teko'a Anhetengua.

O Carijo requer tempo e dedicação, inclui a coleta e seleção de ramos, passando pela "sapecagem" (ramos 'sapecados', um a um, de forma manual, diretamente na fogueira), secagem sob um braseiro acima do fogo de chão, e a separação das folhas secas dos ramos, até a moagem em pilão. Marco importante para a sustentabilidade dos Mbyá Guarani da Teko'a Anhetenguá, o trabalho se destacou por sua abordagem participativa, contando com a colaboração de indígenas e juruá (não-indígenas).

Para os Guarani, esse ritual é um elo com a Mãe Terra, reforçando a união, a partilha e a energia vital da comunidade, não somente na roda de conversa, mas também nos diversos usos tradicionais medicinais e em cerimônias. O costume, considerado sagrado pelos indígenas, foi observado e difundido pelos espanhóis e portugueses nos séculos XVI e XVII, principalmente pelos missionários jesuítas, no Vice-Reino do Rio da Prata, onde ampliaram o cultivo da erva-mate, tornando-se um dos maiores ou o maio símbolo do gaúcho e do Rio Grande do Sul.

Para mais informações sobre o Projeto Ar, Água e Terra acesse seus canais:





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