A tensão política em Cachoeirinha ganhou novo alcance depois que David Almansa, ex-candidato a prefeito e hoje ocupando o cargo de diretor de direitos na rede e educação midiática da Presidência da República, conversou longamente com o site Seguinte. A entrevista ocorreu após a circulação de uma carta falsa atribuída ao petista, o que o levou a divulgar nota pública negando qualquer vínculo com o texto. Embora tenha rechaçado a autoria da mensagem, Almansa decidiu ir além: expôs sua visão sobre a crise e abriu um debate que pressiona diretamente o PT local.
O partido é hoje o centro da disputa porque possui os dois votos que podem definir o futuro político do prefeito Cristian Wasem e do vice Delegado João Paulo Martins. Qualquer palavra de uma liderança petista, portanto, repercute imediatamente, e Almansa não economizou posicionamento.
A fala de Almansa e a delicada equação do PT
Na entrevista, Almansa reforçou críticas antigas ao governo, lembrou denúncias que apresentou no passado e citou episódios de ataques digitais sofridos durante a campanha municipal. Ainda assim, sustentou que não considera adequado apoiar uma cassação neste momento. Para ele, o instrumento tem sido usado historicamente como arma política, e não como mecanismo de correção institucional.
Nesse ponto, não foi citado por Almansa, mas o PT, que por anos denunciou o caráter político dos impeachments que afastaram a presidente Dilma Rousseff e, em Gravataí, a ex-prefeita Rita Sanco, corre o risco de perder autoridade moral se apoiar um processo que também nasce de disputas políticas e não de fundamentos jurídicos sólidos.
Crise permanente e disputa aberta pelo comando político da cidade
A crítica de Almansa não se limitou ao procedimento da cassação. Ele descreveu Cachoeirinha como um município marcado por conflitos constantes entre grupos políticos e por um Legislativo pouco comprometido com debates estruturais.
Para o ex-candidato, preservar o resultado das urnas, mesmo diante de problemas da gestão, é a alternativa menos danosa em um contexto no qual sucessivas rupturas institucionais impedem qualquer continuidade administrativa. Ele também reconheceu que segue à disposição do PT caso uma eventual eleição suplementar venha a ser convocada.
Com as denúncias contra Cristian avançando e com a Câmara avaliando os próximos passos, cresce a expectativa sobre qual será a postura da bancada petista, último fator capaz de alterar o rumo político da cidade.
A seguir, a nota pública de David Almansa na íntegra:
NOTA PÚBLICA
Sobre a circulação de uma carta que está sendo indevidamente atribuída ao meu nome, venho a público esclarecer:
É absolutamente falsa a autoria do texto que está sendo divulgado em aplicativos de mensagem e redes sociais. Jamais escrevi ou autorizei qualquer conteúdo com aquelas afirmações, que não correspondem aos fatos e não refletem minha posição política, minha conduta ou minha relação com o Partido dos Trabalhadores.
Trata-se de uma tentativa evidente de manipular o debate político local, atribuindo a mim opiniões que não expressei e buscando comprometer a posição do PT em um momento delicado da conjuntura municipal. O Partido dos Trabalhadores tem instâncias legítimas, método e tradição democrática para formular suas posições — e seguirá utilizando esses instrumentos.
O conteúdo da carta também procura desqualificar lideranças fundamentais e aliados históricos do PT na região, como o vereador Gustavo Almansa, a deputada estadual Laura Sito, além de mim, pessoas com as quais mantenho relação política de respeito, construindo coletivamente a defesa dos interesses do povo de Cachoeirinha e de toda a região metropolitana.
A direção estadual do PT-RS, conforme deliberado em sua última reunião de executiva, designou uma comissão política para acompanhar a bancada e o processo em curso. É esta comissão — e não mensagens falsas ou disputas externas ao partido — que orientará uma posição coerente com a nossa história, com a defesa da democracia e com o compromisso permanente do PT com o povo de Cachoeirinha.
Reitero que sigo contribuindo com o debate político de forma leal, responsável e coletiva, como sempre fiz. Não participo nem participarei de ataques pessoais, operações subterrâneas ou tentativas de ruptura artificial que apenas fragilizam o campo democrático e prejudicam nossa relação com a população trabalhadora.
Por fim, faço um chamado para que todas e todos mantenham serenidade e tratem o debate interno do PT com o respeito que nossa militância e nossa história merecem. Seguimos firmes na defesa da democracia, da verdade e de um futuro melhor para Cachoeirinha.
David Almansa

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